Projeto Começar de Novo: relato de Experiência

0 comentários
Relato de Experiência da Construção do Modelo Construtivo Investigativo com moradores em situação de rua participantes do Projeto Começar de Novo


Prof.Themis Maria Dresch da Silveira Dovera
João Zimmermann
Escola de Enfermagem-DAOP-UFRGS

     Fiz uma retrospectiva do trabalho desenvolvido no Restaurante Popular para entender como e quanto conseguimos construir juntos um modelo pedagógico construtivista investigativo entre nós(Roque,assistentes sociais,Ricardo,Iara) que são pessoas e também representam instituições que precisamos interagir.Com os moradores de rua ,e depois com os alunos do Projeto Convivências. Separo o discurso, para que ,mais adiante,consiga reunir tudo.
     Pensei em enviar essa fala do projeto para Jaime,Ivaldo e Fuão para que possamos ,juntos conversarmos com a proreitora numa proposta de Programa de Extensão.
     Vou iniciar a construção desse documento ou relato no ponto
1-Perspectiva docente e 2-Conhecimento da realidade e das parcerias:


     No período anterior ao Programa Convivências conseguimos(eu num primeiro momento,depois já com apoio da Rita e Sinara da Deds e o Fernando Fuão e Ivaldo) dar alguns passos importantes:
     No mês de dezembro fui convidada pela Tânia Guimarães, presidente da Associação Fala Mulher e funcionária da FUNDSOL para a Festa de Natal com os moradores de rua promovido pelo Comitê de Ação da Cidadania onde ela me pediu a colaboração de 15 kg de café . Tive vontade de dar o dinheiro na hora,mas senti que aquele era o momento tempo zero para iniciar esse desafio : pedir colaboração para pessoas próximas(irmãos,cunhadas) pensei estar criando os espaços para expressão da subjetividade- no caso- o desejo de ser solidário e a oportunidade concreta de sê-lo ..
    Na minha visão de enfermeira ,entendo que,qualquer ação é cuidar e quando o cuidado não é técnicas específicas dizemos que o cuidado está no campo estético da profissão, ou seja, na parte arte da enfermagem, que não se dissocia da técnica,mas é o cuidar sensível ,que envolve as relações, a percepção de si e do meio ambiente, bem como o entendimento da subjetividade.Já dizia Dalai Lama devemos construir relacionamentos baseados na confiança mútua, na compreensão, no respeito e na solidariedade independentemente de diferenças culturais, filosóficas ou religiosas .E assim iniciei meus contatos com o Roque Grazziola através da Tânia Guimarães.Então no mês de janeiro conheci a Fundsol e no mês de fevereiro promovi a primeira reunião com a Rita Camisolão do DEDS onde estava presente o Roque e a Tânia.
     No mês de março fui a 3 reuniões importantes de estruturação do Projeto Começar de Novo no aspecto da UFRGS: primeiro na Promotoria de Justiça onde a Promotora Angela solicitava a Fasc um Projeto Proposta interentidades capitaniado pelo Ministério Público,falou-se na importância do local no Restaurante Popular onde poderia ser identificado previamente esse morador de rua,pois na época o foco da reunião era a denúncia de maus tratos por parte da brigada aos moradores de rua.Essa construção da relação com o Ministèrio Público partiu da Fundsol com o trabalho que estavam desenvolvendo na Rua e Viadutos.Essa reunião marcou para a UFRGS a apresentação da proposta das oficinas que eu havia organizado baseado num projeto que a Fundsol enviara a Fundação Banco do Brasil e chamava-se Voltando para Casa.Esse projeto de extensão foi aprovado no departamento DAOP da Faculdade de Enfermagem . A segunda reunião no Comitê Gaúcho de Ação da Cidadania com a presidente Iara Bargman,assistentes sociais:Lisette e Silvia ,Roque Grazziola e Tânia Guimarães.Nessa reunião conheci a proposta da assistente Social Lizette que era Orienta Cidadão.Ela dispunha de 15 refeições diária e pensou em organizar oficinas diárias que seriam feitas por mim,Roque e elas. Apresentei na ocasião o projeto de extensão e a minha disposição de trazer parceiros professores e alunos da Universidade.Recebemos um quadro da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Fiquei muito emocionada ao receber esse quadro, e pensei que, neste contexto há um compromisso autêntico com quem está em sofrimento (no caso, a população em situação de rua) propiciado pela solidariedade e abre uma perspectiva de humanização, expressa naquele grupo que se formava.
     Ainda nesse mês conseguimos nos reunir novamente na Prorext com a presença agora do Prof. Ivaldo, Prof. Fuão e Reinaldo (aluno da UFRGS de Arquivologia) e coordenador do Fórum de Moradores de Rua. Escutamos muito o Reinaldo que teve uma significância para a construção da perspectiva dos moradores e os possíveis interesses desses moradores. Algumas questões eu refleti depois da reunião. Que conceitos poderíamos discutir nas oficinas? Queríamos apenas reuni-los meia hora antes do almoço?Ter grupo formado?
     Foi só a partir do mês de abril que comecei a freqüentar as reuniões chamadas “Oficinas”. Fiz uma média de duas oficinas por semana.Trabalhei assuntos de saúde,relacionamento interpessoal,projetos de vida,a vida passada e família-filhos e esposa.Alguns dias saia muito triste das oficinas por identificar a complexidade do trabalho que não dependia só de recursos financeiros,mas basicamente de atendimentos éticos e morais não só por parte dos moradores mas também dos funcionários do restaurante popular como a assistente social que jogava uns contra os outros e do porteiro que era extremamente grosseiro com os beneficiários do restaurante.
     Na construção do conhecimento que eu precisava ainda ter em relação ao projeto Começar de Novo pontuei alguns problemas: 1.Será que existe interesse do Restaurante popular em manter esse grupo de moradores de rua em oficina diária,superlotando o hall de entrada?Na época,mês de abril,só tínhamos recurso apenas para alimentar 15 pessoas,no entanto,estavam freqüentando as oficinas 50 pessoas.
     Na época ,a assistente social, sem recurso financeiro, pensou em escolher as pessoas para se beneficiarem do almoço gratuito, dizendo que uns eram do projeto,outros não. E o hall de entrada, cheio de famintos e maltrapilhos não entendiam a seleção. Chegamos a cogitar interrupção das oficinas por não haver recurso ou seja, o valor de R$1,00 por morador de rua por dia por 5 dias na semana.
      Fiz uma intervenção,assumi pessoalmente 300 refeições semanais. Discuto agora essa atitude, pois poderíamos ter construído melhor a relação custo beneficio entre as entidades envolvidas: fundsol,Ufrgs,Comitê de Ação da Cidadania para manutenção dessa ação que iniciava.

     Revendo o porquê de minha atitude penso que no centro de tudo isso, também se encontra a grande riqueza daquelas pessoas. Pessoas que resistem. A palavra resistência vem-me muitas vezes à ideia, porque estas pessoas atravessam tantas dificuldades: 50% dormiam na rua,só almoçavam aquela refeição e, contudo, continuavam presentes acreditando naquilo que o Roque colocava sobre organização ,presença em pré-conferências, enfim , o encontro diário precisava acontecer, pois os moradores não desistem.
     Entendi que eu tinha desenvolvido três sentimentos com aquele projeto,com aquelas pessoas: a solidariedade,a compaixão e a igualdade.
     Muita gente, talvez a maioria das pessoas, confunde compaixão com pena. A compaixão exige de nós uma atitude, uma ação. Exige que nos coloquemos na situação em questão, e que nos ofertemos, ou a algo de nós mesmos, para que essa situação se resolva. Exige que estejamos presentes, que sejamos atuantes, que nos posicionemos.
     Exige enfim a nossa DISPONIBILIDADE PARA OFERTAR ALGO DE NÓS MESMOS PARA QUE A SITUAÇÃO EM QUESTÃO SE RESOLVA, E QUE AQUELE SER NELA ENVOLVIDO POSSA FINALMENTE SAIR DAQUELE PROBLEMA.
     Acredito que a compaixão freqüentemente combina-se a um desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de outra pessoa, bem como demonstrar especial gentileza com aqueles que sofrem. A compaixão pode levar alguém a sentir empatia por outra pessoa.E isso acabou me impulsionando a fazer contatos com o Solidário onde conseguimos nossa primeira reportagem de jornal,onde legitimamos as ações através do depoimento dos moradores de rua.
     No mês de abril além das oficinas diárias realizamos audiência pública com a Dra Angela promotora de Justiça.Roque solicitou que fosse verificado a possibilidade de algum prédio público desocupado para que se colocasse a Oficina de reciclagem.
    Num enfoque construtivista e investigativo essa reunião teve um significado muito grande para o Projeto pois,a missão que recebemos foi organizar o grupo de 50 a 60 pessoas constantes ,elaborar o projeto e listar as necessidades daquele grupo iniciando os encaminhamentos. Essa reunião levada às oficinas através dos representantes que estavam presentes teve um significado epistemiológico pois motivou e identificou o grupo dando até o nome ao Projeto,escolhido dentre 3 propostas.Traçou as necessidades de albergagem,de grupos específicos de geração de renda,a discussão do uso de drogas e de encaminhamento a tratamentos,enfim,essa visibilidade das necessidades gerou um quadro construido pelo Roque com auxílio de todos os presentes nas oficinas do mês de abril. O pré-projeto do Começar de Novo foi apresentado a Promotoria de Justiça no final de abril.
      Durante os meses de maio e junho o projeto construiu muitas realidades novas.Entre as instituições envolvidas organizamos um cronograma quinzenal que podíamos entender o desenvolvimento das ações e oficinas e considero ,no enfoque do modelo construtivista a direção da aprendizagem.
     O objeto construído “O projeto Começar de Novo é uma ação pedagógica de convivência e organização de trabalhadores e trabalhadoras em situação de rua de Porto Alegre e é realizado através de relações de acolhimento, ações de convivência, atividades laborais de geração de trabalho e renda, ações coletivas de proteção contra a violência física e moral, ações de organização social que fortaleçam o Fórum da População de Rua, ações de formulação de políticas públicas de habitação, trabalho e renda e proteção, ações de apropriação dos direitos fundamentais, ações de orientação alimentar, nutricional e saúde e ações de elevação da escolaridade”


Transcrevo os objetivos traçados pelo projeto:


3 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS.
Image and video hosting by TinyPic

     Durante o horário das oficinas foram preparadas as visitas da Fundação de Assistência Social e Comunitária e dos alunos do Convivências.

     Não participei das reuniões da Fasc com os moradores de rua,mas o que entendi é que essa aproximação com o Restaurante Popular nasceu da reunião das Coordenadoras do Convivências com o presidente da Fasc no mês de maio.
     Construimos também o convivências com os moradores de rua e a equipe de assistentes sociais: Tânia e Roque , o Prof.Fuão, e o João nosso acadêmico da enfermagem voluntário. Estavam presentes 6 moradores de rua envolvidos com o projeto.
    O professor Fuão colocou o objetivo real do convivências e falou claro que não podiam esperar muito dos alunos.Eles iriam aprender com eles, pois entre os moradores a necessidade vigente é a de geração de renda,o concreto. Conversamos sobre alguns problemas que surgiram sobre auto-estima,e sobre as dificuldades para conseguir atestado de bons antecedentes. .
     Então provoquei algumas discussões.No final após retomarmos o objetivo do Projeto Começar de Novo concluimos os marcos teóricos para o Projeto convivências com os moradores- que o pessoal chamou de PRODUTO do CONVIVENCIAS:


1. Visita ao forum publico -alunos acompanhando moradores para conseguirem o atestado de bons antecedentes;
2. Catalogação dos livros da biblioteca;
3. Existem muitos computadores para serem desmontados.Oficina de
eletroeletrônica;
4. Levantamento de saúde e acompanhamento ao PSF moradores de rua que fica no centro para consulta médica se necessário;
5. Iniciar a discussão para geração de renda. Precisamos contatar professores para nos ajudarem nisso.Técnicas de venda,de produção;
6. Ficou ainda em aberto a possibilidade ocupação da área embaixo do viaduto;
7. Oficina de alimentação com elaboração de lanches.Precisamos uns 5 kg de café;copinhos e guardanapos.

     Saí muito satisfeita da reunião,mas sentindo o apelo dos moradores para a geração de renda. Analisando e refletindo sobre essa reunião ,senti o grupo muito sintonizado e evoluiu muito bem na determinação dos conhecimentos e interesses dos moradores para essa atividade que seria o Convivências.

Resultados do Convivências
     Senti as primeiras dificuldades com a assistente social Lizette na preparação do Projeto bem como da Tânia Guimarães.Participei dos encontros teóricos nos primeiros dois dias na Prorext e na tarde de terça-feira só me liberei no final da tarde para buscar o material na PROREXT.O horário tarde deixou no grupo um desconforto entre nós e isso se agravou dia após dia no Convivências.Ás vezes eu tinha a impressão de que estava sendo sufocada por essa pessoa,constantemente me dizendo não.
     Dentre os resultados do que foi programado conseguimos montar a biblioteca, organizar o grupo da oficina de alimentação,alunos do Saju-Direito da UFRGS encaminharam e atenderam 15 moradores ex-apenados com dificuldades.Fizemos contato com a Faesp e Susepe(levei de carro 4 ex-apenados para as reuniões.).A Faesp tem uma cooperativa social que poderá servir para esse grupo contido no grupo maior que é o Projeto Começar de Novo,reorganização da listagem dos beneficiários pelo Projeto , Organização para reforma do banheiro na área superior dos banheiros .Fizemos contatos com Secretaria de Justiça e Ação Social apresentando o orçamento que foi encaminhado também ao Sr Ricardo no Restaurante Popular,atividades lúdicas e de artesanato,.Oficina do Sabão- gerou o desejo de produzir o produto numa griffe rua.


Alguns depoimentos dos acadêmicos que participaram:


Olá!!!
     A experiência com o grupo foi muito gratificante, espero poder rever a todos em algum momento, gostaria de pedir ao Cadinho para me enviar as demais fotos, pois só recebi as do primeiro dia e as do almoço de sábado, se alguém já as tiver e poder me enviar, agradeço.
Obrigada a todos pela experiência e cooperação!!
Bom semestre!!


Alexandra


     Olá pessoal, segue em anexo a lista com os nomes, telefones e e-mails de quem participou e contribui com o Projeto Convivências. Gostaria de dizer que foi um enorme prazer participar de algo tão singular e conviver, durante esses dez dias, com uma pluralidade de opiniões, visões de mundo e biografias. Creio que o enriquecimento que se leva dessa experiência não diz respeito somente a maneira como enxergamos e lidamos com o "outro", mas sim no fato de podermos experenciar o "outro" fora de si mesmo.
Um grande abraço a todos e que Deus os abençoe.
Att,
Edson


Conclusão: A construção continua.Quer manter as oficinas de saúde e as avaliações fisicas e de saúde.


0 comentários:

 

©Copyright 2011 Themis Dovera | TNB